Grande é o desafio para os psicanalistas no tratamento de pacientes psicóticos, sendo que muitos acreditam não ser possível, em hipótese alguma, o tratamento psicanalítico em qualquer quadro de psicose, ficando o tratamento restrito aos casos de neuroses. Todavia, mesmo no caso das psicoses, existe sim a possibilidade de se estabelecer relacionamentos e a vida mental não ser totalmente desorganizada.
Maior ainda é o desafio quando esses pacientes se encontram internados em clínicas ou hospitais psiquiátricos, sendo que o psicanalista poderá ser uma grande contribuição no tratamento desses pacientes psicóticos especialmente quando atuar em conjunto com o médico psiquiatra, a equipe de enfermeiros e demais terapeutas.
Trago como exemplo um paciente que apresenta um quadro grave de depressão que começou a se manifestar após o término de um relacionamento amoroso.
Num determinado dia, tal paciente tenta o suicídio, permanecendo internado por algum tempo na ala psiquiátrica do hospital, apresentando ideias completamente distorcidas da realidade, acreditando veementemente em seus pensamentos.
Através do relato da família e da perturbação mental apresentada pelo paciente, o psicanalista pôde concluir estar diante de um quando de melancolia, uma das organizações subestruturais das psicoses. Com o fim do relacionamento, foi como se o próprio paciente houvesse se perdido, ele investiu parte de si nesse relacionamento e com seu término, de maneira inconsciente, sentiu como se houvesse perdido a si mesmo.
Daí surgiu uma tristeza profunda, o desânimo, a perda dos afetos, o desinteresse por tudo e por todos e o sentimento de culpa pelo fim da relação, chegando ao extremo de tentar o suicídio, o que foi uma maneira de substituir a dor emocional que tanto lhe afligia.
Esse paciente se encontrava numa condição psicótica apresentando-se aparentemente bem adaptado ao mundo externo, mas que, devido a alguns núcleos psicóticos, passou a se socorrer de mecanismos mais primitivos quando se viu diante de situações que lhe causavam angústia e sofrimento.
E é aí que entra a valiosa ajuda do psicanalista no tratamento desse paciente, o qual contribuirá com os profissionais envolvidos no tratamento esclarecendo os motivos pelos quais surgiram os sintomas, trazendo para o consciente do paciente o conteúdo que foi reprimido e que acarretou tamanho sofrimento.
Nos momentos em que o paciente internado conseguir recuperar, mesmo que brevemente, sua capacidade de se relacionar com os outros e com o mundo exterior, o psicanalista aproveitará da fala do paciente para iniciar e conduzir o tratamento psicoterapêutico.
Daí a importância da colaboração dos demais profissionais envolvidos no tratamento, uma vez que o vínculo do paciente pode se estabelecer com qualquer um que mantenha proximidade com ele, sendo que essa atuação em conjunto trará maiores benefícios ao paciente.
Sobre a autora:
Renata Posada
Psicanalista e Docente da EPC
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