Por trás das pulsões,existe um sujeito a ser analisado para se compreender as demandas que antecedem suas ações. Toda pulsão tem uma razão de ser, ou seja, tem origem na história psíquica desse sujeito. Levar o sujeito a nomear o real desejo, e qual a forma que esse desejo recalcado (impedido de vir a consciência) descarrega essa energia pulsional no objeto, seja ele comida, vícios , drogas, jogos entre outros.
O objeto investido de energia pulsional (catexizado), se torna a única satisfação prazerosa para o sujeito que passa a seguir o padrão de repetição como forma de preencher esse vazio, pelo não reconhecimento do seu desejo.
Somos seres pulsionais, sempre em busca daquilo que nos falta e da satisfação de termos nossos desejos atendidos, nos diferenciam dos animais, por termos um nível de consciência que nos torna racionais, porém ao contrário do que imaginamos, somos muito mais regidos pelo inconsciente do que pelo consciente, portanto se faz necessário entender que há uma voz que insiste em se fazer ouvida para que possamos dominá-la, e trazer tais conteúdos a luz da consciência.
Somos seres desejantes sempre insatisfeitos com a incompletude da falta.
Nosso processo psíquico é regulado automaticamente pelo princípio do prazer, esse fluxo é sempre estimulado por uma tensão desprazerosa que então toma uma direção tal qual que seu resultado final coincida com uma evitação de desprazer, ou uma geração de prazer (Além do princípio do prazer - Sigmund Freud, 1920).
Buscamos sempre evitar o desprazer através de uma economia para diminuir essa energia, gerando a busca pela recompensa. A pulsão tem a sua fonte numa excitação corporal (estado de tensão) e o seu objetivo é suprimir o estado de tensão que reino na fonte pulsional, é no objeto ou graça a ele que a pulsão pode atingir a sua meta,(segundo Laplanche e Pontalis– vocabulário de Psicanálise – pag.: 394); a pulsão é um processo dinâmico que consiste numa pressão ou força (carga energética) que faz o individuo tender para um objeto.
Abordaremos aqui com mais intensidade a compulsão alimentar que é o padrão de repetição exercido através da pulsão, embora existam vários tipo de compulsão: por jogos, substâncias como remédios ou drogas, exercícios, roer as unhas, entre outras que sempre levam o sujeito a repetir o mesmo padrão de comportamento que gera a satisfação e logo após a culpa, advindo da pulsão de vida (prazer, autopreservação, libido) e da pulsão de morte (autodestruição).
Outros fatores que desencadeiam a compulsão são a busca exagerada pela dopamina (hormônio do prazer) e um fator relevante a evolução do mundo, com tudo acontecendo de forma mais rápida devido ao avanço da tecnologia, principalmente pelas redes sociais que causam ainda mais ansiedade, devido a frustração de não corresponder às expectativas do outro.
Diversos fatores podem desencadear as compulsões como a ansiedade, traumas, frustrações que podem ter raízes na infância, nas fases psicossexuais principalmente na fase do Complexo do Édipo mal resolvido, gerando consequências negativas na fase adultas, fazendo o sujeito regredir e se fixar a alguma dessas fases que foram mal resolvidas na infância.
A compulsão alimentar pode estar diretamente ligada a fase oral, onde o prazer se encontra na boca, o sujeito regride a fixação nesse órgão alcançando a libido através da oralidade, exemplos além da compulsão alimentar, são pessoas que falam, fumam ou bebem demais.
Necessário entender o passado para entender o presente do sujeito para se chegar à resposta do grande questionamento que é o porquê que o sujeito faz isso que faz, qual é as motivações e o looping da ação-recompensa que acaba gerando o prazer X desprazer.
Vemos que há um processo primário (inconsciente primitivo) que busca a gratificação imediata dirigida pelo princípio do prazer, a qual deve ser analisada e considerada para levar o sujeito a perceber através do princípio da realidade (processo secundário – consciente) que a gratificação adiada leva a ganhos maiores.
Será preciso trabalhar o princípio da realidade para se trazer o sujeito a luz da consciência, já que o ego busca satisfazer os desejos do ID (inconsciente) e atender as exigências do superego (pré-consciente) para não entrar em sofrimento, compreendendo esse mecanismo podemos entender o porque do sujeito agir dessa forma, sendo um meio de poupar a energia da sua psique.
Através do processo de análise, podemos investigar e analisar o sujeito por detrás das suas pulsões, de acordo com a sua subjetividade, diante as suas demandas pessoais e sua história psíquica. Cada ser humano é único, portanto deve ser analisado como tal, de forma que o processo analítico o leve a reconhecer suas faltas e a nomear seus desejos, para que assim possa elaborar e ressignificar, ou seja, dar novo sentido ao que ele pôde se escutar através de sua fala. É preciso trazer para a análise o sujeito faltante e desejante, o levando a perceber que há nele um vazio que o faz buscar na compulsão uma forma de tamponar esse espaço, só assim o levamos a compreensão, de que enquanto ele seguir esse padrão de repetição não conseguirá mudar seus padrões mentais em busca de novos hábitos que substituam os antigos.
Um exemplo disso é o que acontece em alguns casos de cirurgia bariátrica, se não for trabalhado antes o psíquico do paciente, esse poderá voltar á compulsão alimentar , ou até trocar o alimento por bebidas, drogas ou algo que preencha o vazio, já que mesmo com a redução do estômago, o cérebro não foi antes trabalhado para ser mudado os padrões mentais.
Se faz necessário antes de começar qualquer processo em busca de emagrecimento, buscar médicos especializados em nutrição, metabolismo, cuidados na parte física como esportes entre outras coisas. Porém, o analista será necessário para se conseguir fazer a reprogramação mental, para a mudança permanente dos padrões psíquicos, para que o sujeito ao se conhecer possa se reinventar e fazer diferente, saindo assim dos padrões de repetição.
É como diz aquela antiga frase: “ OU VOCÊ MUDA OU TUDO SE REPETE”. Para que haja mudança , será preciso primeiro o sujeito se reconhecer e se aceitar para que possa buscar quem deseja se tornar.
O analista é o condutor que ajuda o sujeito a buscar as chaves que os levam a abrir as portas para novas possibilidades, para que ele possa assim encontrar novos caminhos que o levem ao encontro desse novo EU, que se permite e se respeita, a ponto de fazer novas escolhas gerando novos resultados.
O melhor sempre encontra uma forma de se fazer possível desde que o sujeito se permita e se autorize a viver o extraordinário em sua vida! Nada será como foi no passado, tudo poderá ser melhor, como nunca havia sido antes, para quem acredita que pode fazer diferente e criar novas oportunidades diante a novas possibilidades!
OUSE! INVENTE! FAÇA DIFERENTE!
Sobre a autora:
Karin Haidar
Psicanalista Especialista em Relacionamentos
Contato via Whatsapp: 17 99204-2896
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